
Teresa vivia numa família onde reinava o amor de pais para filhos.
O pai era o melhor, mas nem sempre soube ser bom marido. A mãe, a melhor de todas, trabalhava dia e noite e tinha sempre uma palavra de carinho para dar às filhas e ao marido . Quando cansada procurava o repouso, o marido enfurecido pelo álcool , fazia-se valer da sua força máscula. Porque assim também já crescera, tudo suportava em nome de qualquer coisa que teimava em chamar família.
As suas duas filhas assistiam a estas cenas, socorriam a mãe e tentavam apaziguar a ira do pai. Cresceram rodeadas de todo o conforto, mas privadas da paz que tanto almejavam .
Laura, a mais velha, optou por não constituir a sua própria família. Teresa, a caçoila, cheia de sonhos, casou com o seu primeiro e grande amor.
O namorado tinha tudo o que sempre desejara num homem e este era tão diferente do seu pai.
Trocaram votos de felicidade, de cumplicidade, de protecção, juras de amor eterno naquele dia, que era tão-só, o dia mais feliz da sua vida.
Partiram em lua de mel e Teresa estava mais feliz do que nunca. Tinha conseguido dar início à sua própria família, que estava certa, seria tão diferente daquela que a viu crescer.
Ainda em Lua de Mel, Teresa sentiu a sua vida desmoronar. Aquele homem meigo que um dia conhecera, deu mostras da de que afinal era tão parecido com o seu pai.
As primeiras agressões surgiram. Teresa a quilómetros de distância, separada por um imenso Oceano, chorou lágrimas de sangue, curvada sobre o seu próprio ventre, recusando-se a acreditar que o que lhe tinha sido tão familiar lhe estava a acontecer.
Mário chorou agarrado a ela, implorando-lhe perdão e querendo fazer amor com ela. Teresa cedeu, aquilo não podia ser verdade, era apenas um momento que não se voltaria a repetir.
De regresso e com o olhar triste, escondeu de todos o que lhe havia sucedido. Estava certa que nunca mais voltaria a passar por tudo aquilo. Mário mostrava-se mais terno, mais atencioso do que nunca.
A vida tinha voltado à normalidade, embora Mário revelasse um carácter ciumento, possessivo, mas no seu coração, ele amava-a, dizia repetidamente para si própria.
Um dia, Mário chegou a casa cansado... o dia não lhe tinha corrido bem no seu novo emprego e Teresa tentava, em vão, animá-lo. Vestiu a camisa de seda que havia usado na noite de núpcias... e mais uma vez, porque pensava que a sua mulher estava a ficar fora de controle, Mário não se conteve. Espancou-a com uma violência tal que Teresa desfaleceu.
Quando «acordou» Teresa pensava que tudo não tinha passado de um pesadelo mas, ao ver-se ao espelho, percebeu que as marcas do amor haviam ficado registadas no rosto.
Mais uma vez não quis acreditar, mais uma vez Mário se mostrou arrependido, prometendo-lhe que nunca mais voltaria a cometer tal barbaridade, fazendo-a acreditar que ela era a mulher que sempre desejara e que para sempre iria amar.
Seguiram-se dias de «namoro e de enamoramento», Mário voltara a ser o homem maravilhoso, ternurento e carinhoso que sempre fora.
Teresa andava feliz, tanto que quis ter um fruto desse amor. Mário consentiu, afinal ela era a mãe que sempre desejara para os seus filhos.
O Miguel nasceu e a paz e a felicidade tinham voltado. Teresa vivia agora a felicidade plena.
O pequeno Miguel não dormia, não se calava durante o dia e a noite.... Mário passara a dormir no sofá, com a desculpa que teria de trabalhar no dia seguinte, Teresa não.
Os olhos de Teresa começaram a ficar carregados de negro, fruto de noites e dias sem descanso, fruto de um esforço sobre-humano para estar alegre e sorridente quando Mário regressasse do seu dia de trabalho.
Numa noite, Miguel adormecera... finalmente podiam jantar a sós, sem interrupções, sem os «berros da criança», mas o telefone tocara nesse instante. Teresa hesitou, não queria estragar aquele momento que poderia tornar-se mágico. Mário atendeu, era a mãe da Teresa, queria saber se o neto estava melhor.
Quando Teresa regressara para a mesa, Mário mais uma vez se descontrolou... Estava louco, possuído... e Teresa, encolhida, a seus pés, suplicava que parasse, pedindo-lhe perdão como se tivesse sido culpada de alguma coisa. Mário não a ouvia e só conseguiu parar quando deu conta do sangue que estava junto aquele corpo agora inerte.
Como justificaria isto? O que diria? Teresa não acordava... chamou a ambulância... «Ela tem a mania das limpezas e pendurou-se, já a tinha avisado», foi a desculpa que arranjou para encobrir o seu acto de cobardia.
Apressou-se a telefonar à mãe de Teresa a quem contou a mesma história «sabe como é a sua filha, sempre com a mania que a casa está suja... tem de vir buscar a criança». A mãe de Teresa, no seu coração, sabia mas nem uma palavra disse. Afinal, Mário era o marido. Mas o seu coração ficou negro como a noite mais escura.
Anos e anos se passaram, histórias e histórias foram inventadas... para que não descobrissem o marido que escolhera e que sempre se mostrara arrependido. Anos e anos de arrependimentos, de namoro e de enamoramento.
Numa das muitas entradas no hospital, Teresa não aguentou mais. Quis falar com uma assistente social, precisava de ajuda, estava a caminhar para a loucura.
Foram anos de sofrimento, mas Teresa conseguiu libertar-se daquele que um dia lhe tinha jurado protecção, amor, ajuda na doença.
Hoje, Miguel tem 20 anos e Teresa continua só, a viver para o único homem da sua vida - o filho. Deixou de acreditar.
Esta é apenas uma história, baseada em tantas que se contam.
Não vamos tolerar mais!
Chega de violência!
É bom que a blogosfera também sirva para isto:
http://trazoutroamigotambem.blogs.sapo.pt/45138.html
(Link publicado com autorização da autora)
De
lunavenus a 28 de Novembro de 2007 às 09:39
A tantas Teresas que existem por aí, só lhes digo que o mostro com quem vivem não passa de alguém que um dia conheceram por acaso. Se passassem na rua ao lado não teriam que viver dessa forma.
VOCÊS TERESAS são importantes e não se deixem iludir na conversa do perdão. O tempo vos dirá que vale a pena viver mas não dessa forma.
Não tenham vergonha, peçam ajuda.
Talvez um blog seja útil.
Boa Sorte ou Decisões Acertadas.
Olá Luna
Obrigada por teres comentado.
De facto, é a «único familiar» que se pode escolher e tantas são as Teresas que os escolhem na esperança de serem felizes, de terem uma família.
Tens razão, é alguém que se conhece por acaso, mas pode-se sempre «atravessar para o outro lado da rua».
Beijinho
Penso que as mulheres que passam por uma situação destas deve viver sempre na esperança que tudo um dia vai mudar. Infelizmente nem sempre têm perto delas alguém que as apoie e que lhe transmitam a coragem para darem o passo necessário. Se com as nossa palavras pudessemos ajudar!
A fase do namoro e do enamoramento leva as mulheres a creditar que as coisas vão melhorar, fica sempre uma esperança.
O perfil do agressor é exactamente este: agride e arrepende-se, é ternurento por uns tempos até voltar a perder as estribeiras..... Vive-se em constante início de namoro e isso leva as mulheres a pensar que aquela foi a última vez.
Beijinho
Penso que tens razão. Muitas vezes me pergunto o que leva estas mulheres a manterem uma relação que só as faz sofrer e, quantas vezes, as pode levar à morte. Só a esperança de que tudo vai mudar!
O que leva não sei exactamente, os factores são muitos: dependência financeira, dependência psicológica, modelos que já viveram, medo, represálias, sociedade (porque a bem da verdade, diga-se que ter «Div» no BI . não é muito bem visto), pelos filhos..... O que sei é que é que os números são muito mais elevados do que as estatísticas mostram.
Um grande beijinho
De dreedlino a 28 de Novembro de 2007 às 19:25
Isso nunca pode ser chamado de historia pois mais parece um filme de terror que infelizmente com a cumplicidade dos nossos politicos tristemente se chama realidade diaria ...para mim e publicamente sem esconder a face... todos estes parasitas que se intitulam homens nunca passam de primatas prematuros que devido ao avançar da genètica se tornam semelhantes ao ser humano.
Parabens pelo artigo e continua assim ...
Abraço do Rui
Olá Rui
Há um grande desconhecimento da Lei que foi alterada e os agressores já são punidos, embora concorde que muita coisa há a fazer por parte dos nossos políticos. Mas se vamos estar à espera deles.... temos de agir e agir é denunciar. Bem sei que depois da denuncia, muitas vezes feita por terceiros, porque estamos a falar de um crime público, as próprias mulheres são as primeiras a negar: por medo, por vergonha, por dependência... por múltiplos factores.
O certo é que os números crescem em flecha e estamos só a falar dos casos denunciados. Quantas Teresas não existirão que sofrem este filme de terror e que se mantém caladas, curvadas sobre a sua dor?
Um abraço e obrigada
É horrível pensar que enquanto estamos a ler este post, algures em alguma parte do mundo, alguém está a ser alvo de violência doméstica! É importante denunciar!
Beijinhos
Pois é Luz
Quantas Teresas não existirão que agora estão a sofrer? A denuncia é fundamental, quanto mais não seja para que o agressor perceba que já foi «catalogado».
Basta ligar para o 112, depois a chamada é reencaminhada. É gratuita a chamada, nem sequer nos traz custos.
Um grande beijinho. Eu lutarei sempre por esta causa
Há muitas Teresas, tantas, tantas por este país e este mundo fora... ricas e pobres, sem instrução e com licenciaturas. Tantas Teresas caladas, a sofrerem por nada e a pensarem que fazem bem aos filhos e só os traumatizam... porque também há muitas Lauras, descrentes, apagadas, tristes e vazias.
Há tempos, ouvi na TV uma história de uma Teresa igualzinha a esta, os antecedentes familiares e o início do seu calvário imediatamente na lua de mel... Mas teve um final muito mais infeliz: um dia não acordou mais.
Mesmo depois da frustração e da vergonha (de que não têm culpa, porque nada que fizessem justificaria o comportamento violento do homem)serem racionalizadas, nada fazem com medo de que eles não sejam presos e se tornem ainda mais cruéis... De sofrerem represálias... Verdadeiro pânico. É triste que legalmente as punições sejam tão brandas nestes aspectos e garantam tão pouco ou nada a integridade das vítimas. Em todo o caso, têm sempre a hipótese de procurar ajuda em tantas associações, de mudarem de cidade...Embora lhes custe deixar tudo o que construiram. Outro dado comum, as famílias delas muitas vezes não as ajudam, o que não consigo compreender! Dá-me uns nervos!
E existem aindas muitas mulheres que sofrem violência psicológica, que também é uma forma de violência e pode destruir uma vida...
Fizeste bem em chamar a atenção. Tens razão, o blog também serve para isto!
Uma grande beijoca de quem muito te admira:)
Querida Sara
A violência doméstica está enraizada em todos os meios sociais, senão lembremo-nos do caso Tallon e por aí fora. A verdade é que há tanta gente do Jet 7 a entrar nos hospitais «vítimas de quedas ou de portas do armário».
O agressor cria um clima de terror que leva a vítima a creditar que está só, que não pode sobreviver sem ele e por aí fora. São tantos os factores. Nem sou muito apologista da teoria determinista, porque defendo que o nosso futuro depende sempre das nossas opções, mas a verdade é que o modelo com que sempre se viveu é um dos factores principais apontados pelas vítimas para viverem e suportarem (tantas vezes até à morte) tal calvário.
Depois temos a nossa sociedade onde ainda impera o costume «entre marido e mulher ninguém meta a colher», «é a tua cruz», «deixa lá, nunca deixou faltar nada em casa».... e por aí fora.
Há tantas Teresas...
Lembro-me de que quando trabalhei num jornal ter uma colega, filha de um diplomata e de renome, que sempre se mostrou firme, com garra, valente.... Um dia entrei no gabinete e ela estava a chorar.... contou-me como vivia este drama no dia a dia, como se sentia insegura, como sentia medo. Fiquei estupefacta, no verdadeiro sentido da palavra. Nunca imaginaria que uma mulher daquelas pudesse ser vítima nas mãos daquele que escolheu para ser seu companheiro.
Eu não tolero isto e trabalho para que isto acabe. Um dia explico-te melhor.
Um grande beijinho
De
Infiel a 29 de Novembro de 2007 às 12:51
a mulher pode não ter a força fisica de um homem mas, no momento em que se defende... ele pensará duas a cem vezes antes de voltar a levantar-lhe a mão
infelkizmente tambem conheço casos de outras Teresas, eu ja passei pela mesma situação
a 1ª vez foi pura surpresa, nem consegui reagir
a 2ª ... impuz-me e mostrei-lhe que em mim, não voltaria a tocar
ha uns tempos escrevi um post sobre essa situação mas, depende de cada uma reagir e saber o que pretende
enquanto a mulher pensar que precisa de um homem para viver
enquanto a mulher pensar que não consegue....
sempre haverão Teresas
pelo menos pode ser que alguma leia blogs e consiga sentir a força que está dentro dela, para lutar por ela
Ola voltei hehehe
jocas minha querida, tinha energia acumulada, tinha de descarregar o camião
um abraço
Cada vez te admiro mais, eh eh. Não é para todas essa coragem e valentia. Grande mulher.
É bom que despejes o camião porque eu gosto da tua carga.
Beijinhos grandes e muitos
De Just Moments a 29 de Novembro de 2007 às 22:33
Olá Amiga!!
Obrigada por teres postado esta história..Como é verdadeira!!
Pena que existam tantas como esta!!
Beijinhos querida
È triste dizê-los, mas cada vez são mais as Teresas que sofrem em silêncio. Esta é apenas uma história, com o objectivo de chamar a atenção... que as Teresas se revejam e digam Basta.
Um grande beijinho
De
cigana a 2 de Dezembro de 2007 às 01:53
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