Se a mulher bem amada é imune a piropos baratos, a mal amada talvez não o seja, pois é vulnerável, do ponto de vista sentimental. As suas defesas estão debilitadas, tem carência de afecto, de respeito, de cumplicidade, de conivência e de companheirismo. Enfim, falta-lhe amor, sobra-lhe preocupação com o amanhã. Alimenta, sempre e sempre, esperança de melhores dias. Sonha ser amada, receber afecto, ser compreendida, respeitada como mulher, mãe, companheira e amiga. Espera e espera, mas o sonho não se realiza. Cansada, admite enfrentar o risco de uma aventura fora da relação. A vulnerabilidade reside somente neste aspecto.
Mas o quê tem a perder ?
A regra não é infalível. Mas se é jovem, não chegou aos trinta, a auto estima; o desejo de luta; o vigor da juventude; as aspirações de liberdade; a consecução dos sonhos de menina moça; a garra de enfrentar a educação dos filhos, se os tiver; constituem a soma dos factores que a fazem falar mais alto, a ver mais longe.
O desamor, que corroeu sorrateiramente o relacionamento, aliado à força interior, ao poder de determinação, pode levá-la à uma posição de independência, ao risco de uma aventura.
Quando assim é, a preferência geralmente recai num homem mais velho, bem posicionado na vida. Fica, então, a pergunta: seria uma busca pela segurança não encontrada no parceiro jovem, ou projecção da figura do pai, das reminiscências de infância?
Somente Freud poderá explicar.
No entanto, conclusões apressadas não devem ser feitas. A carência de afecto e de amor não a leva, somente por isso, a aceitar qualquer proposta amorosa. Não é bem assim. Apenas torna-a mais vulnerável neste aspecto particular. A aceitação ou recusa de um galanteio, depende do momento, das circunstâncias, da forma de abordagem ou da empatia com quem lhe despertou a atenção.
Não se lhe atirem pedras, pois. Ela é fruto da incompetência do homem (que escolheu como seu) em seguir as regras básicas de comportamento no ambiente do lar, no leito conjugal.
Essa inaptidão, porém, não nasce de repente, nos preliminares do jogo amoroso ou no justo momento do acto sexual. A origem remonta aos primeiros contactos; ao tempo da conquista.
As atitudes na constância da relação são, portanto, um prolongamento da convivência anterior, com seus defeitos e virtudes
Na maioria das vezes o homem não percebe certos detalhes próprios à condição de mulher: os chamados caprichos femininos, tais como: a vaidade no vestir-se; o prazer em olhar com frequência as mesmas vitrines; visitar as mesmas lojas à procura de novidades, mesmo sem interesse em fazer compras; a ida aos salões e ginásio, ainda que suportem a chatice das conversas “intelectualizadas” das cabeleireiras e manicuras (que me perdoem).
Há tantas outras coisas que o homem não dá a mínima importância, mas para elas estão intrinsecamente ligadas às suas vidas, que se tornam impossível de suprimir.
Mas há também as subtilezas do género; as nuances, os detalhes quase imperceptíveis, as perguntas ao parceiro, tais como: “estou bem assim?”. Ao exibir, antes de deitar-se, uma “lingerie” escolhida especialmente para aquele momento.
No caso, o detalhe “roupa” tem pouca importância. O objectivo é chamar a atenção para ela, um pouco “esquecida”, ultimamente. São estas e outras pequenas nuances da vida em comum que marcam o êxito ou fracasso de um relacionamento.
O papel do homem é fundamental neste contexto. Se não gosta de acompanhar a companheira nas idas aos shoppings, não deve impedi-la, quanto muito deve apenas “deitar um olhar” em relação aos gastos.
Se ao homem não lhe chamam a atenção as roupas sensuais exibidas, nunca deverá demonstrar desinteresse. Melhor será um gesto de assentimento ou um elogio. Nada custa dizer que ela fica melhor, fica mais magra. Não há, talvez, satisfação maior do que ouvir tais palavras. Atitudes como essas constituem um bálsamo a massajar o ego, a reconfortar a auto estima, a não torná-la uma mulher mal amada.
Como regra geral, se há ajustamento, harmonia, na fase preliminar ao casamento, a tendência é de continuar assim, salvo o desgaste natural provocado pelo tempo e pela rotina da convivência.
Sendo a mulher o assunto deste comentário, lamentável que se ignore uma importante regra: não há mudanças para melhor após o casamento, se na fase que o antecede já existiam problemas no relacionamento. Se, por exemplo, o parceiro era ciumento; bebia em excesso; preferia, após o trabalho, a conversa com os amigos, nos barres, a situação continuará a mesma ou ficará pior ainda.
As promessas e juras de mudanças, dificilmente serão cumpridas. A preferência pela companhia de amigos, após o trabalho, ao invés do regresso ao lar, continuará, por certo. A cultura machista repugna a ideia de os parceiros serem vistos como os “dominados pelas mulheres”.
Por paradoxal que pareça, é este o ponto fulcral das conversas, além da política, do futebol e das muitas soluções para os problemas do país, comentários maldosos sobre a vida alheia, sobre a vida de mulheres, às vezes dos próprios amigos. Ausentes, é claro.
Situação diferente é a da mulher, igualmente mal amada, que não se arrisca sair de uma relação antes de chegar e ultrapassar os trinta anos. Os filhos crescidos, em idade escolar, com os problemas comuns à juventude, projectam nela um sentimento de responsabilidade maior que seu amor próprio, que o seu desejo de liberdade.
As primeiras rugas anunciam ou denunciam o alvorecer da maturidade. No balanço da vida, se houve êxito da mãe com a educação e encaminhamento deles na trilha da vida, a submissão aos caprichos do companheiro deixou-lhe cicatrizes profundas nas suas aspirações de mulher.
Resignada, conclui ser tarde, muito tarde, para sair do emaranhado construído ao seu redor. E neste ponto, e como lenitivo, a perspectiva ou a chegada de netos reacenderá as alegrias, já sepultadas, de jovem mãe e compensará a possível desilusão pela substituição na relação conjugal por outra mais bela, porque mais jovem e sem sinais de rugas.