Estou a fazer um trabalho extra que consiste na transcrição de entrevistas. Um professor da Escola Superior de Enfermagem está a fazer o doutoramento e deu-me umas entrevistas para transcrever.
A vida não está fácil e este dinheirinho vem mesmo a calhar.
A Maria ao ouvir uma pequena parte de uma das entrevistas, ficou cheia de vontade de brincar aos enfermeiros. Lá foi ela, com os nenucos e estojo de enfermagem (um brinquedo que lhe dei há uns anitos atrás) para o seu local de brincadeira preferido: a casa de banho.
Fui para a cozinha. Entretanto chega ao pé de mim e pergunta-me:
- Queres brincar comigo aos enfermeiros? Vá lá, já não brincas comigo há tanto tempo.
- Brincar? Com essa idade? Então não queres namorar?
- Não gozes, por favor. Quero namorar, mas também quero brincar.
Claro, a insistência foi tanta que lá tive eu de «arregaçar as mangas» para que a miúda me pudesse tirar sangue. Mas já não sei brincar. Antigamente punha um ar sério; agora, só me saem disparates. A cena teve de ser repetida vezes sem conta, isto porque os diálogos não batiam certo.
Haviam de ver a Maria, de seringa em riste, a entrar e a sair da sala, com o seu ar de «enfermeira Marta» (ela é que escolheu o nome) a fazer-me perguntas:
- Então, está boazinha?
- Se estivesse não estaria aqui, respondia eu.
Cena interrompida.
- Então, a sua filha como vai?
- Parva, é o que é.....
Cena interrompida
- E a sua mãezinha?
- Olhe, sei lá. A senhora esteve com ela, tivesse perguntado.
Cena Interrompida.
- Bem, o melhor é trocarmos de papéis.
- Sim, também acho.
O sangue foi tirado num ápice e acabou-se a brincadeira rapidamente..........
- Francamente, senhora enfermeira. Balbuciou a miúda.....