Quinta-feira, 20 de Novembro de 2008

 

 

Vamos lá esclarecer várias coisas:

 

1) Os professores sempre foram avaliados. A Ministra em particular e este governo em geral não descobriu a pólvora. A avaliação dos docentes não teve início com o Governo Socialista. Com o governo socialista tiveram início os despedimentos e os contratos a termo certo ou a prazo. Recuem ao ano de 1983 e relembrem o que o senhor Mário Soares fez enquanto 1º Ministro;

2) Sou professora há 16 anos e sempre fui avaliada no final do ano lectivo;

3) A minha assiduidade ou falta dela sempre contou para a minha avaliação. Os artigos 102º (não o art. 4º) sempre entraram na avaliação;

4) Sempre cumpri, na escola, a componente lectiva e a não lectiva (inclusive quando estava em período de amamentação);

5) Sempre fui avaliada por todo o trabalho que desempenhei: as aulas que dava (competência pedagógica); as visitas de estudo que organizava e /ou acompanhava; a formação que tinha e que era creditada (25horas= 1 crédito), as reuniões que tinha com os Encarregados de Educação, todo o trabalho que fazia para que o educando não abandonasse a escola, etc. Ou seja, sempre fui avaliada por todo um trabalho/processo que desenvolvi e não apenas pelos resultados que obtinha no final do ano. Os resultados são importantes, mas o processo é ainda mais e se não fosse assim, a Senhora Ministra não propunha a transição de todos os alunos até ao 9º ano;

6) O que os professores pretendem não é o fim da avaliação docente. É o fim deste modelo de avaliação, que já provei em post anterior de nada ser útil e nada apresentar de interesse nacional;

7) Sou professora e sou mãe de uma jovem que frequenta o 3º Ciclo. Sei, portanto, o que devo fazer enquanto professora, mas sei também o que fazer enquanto Encarregada de Educação e mãe.

8) O que não pretendo é ser avaliada por coisas ridículas como as que de seguida apresento.

 

- não quero ser avaliada pelo número de positivas e de negativas que possa dar, nem pelos 4 ou 5 que os alunos possam vir a ter;

- não quero ser avaliada pelo número de telefonemas que faço aos Encarregados de Educação;

- não quero ser avaliada por uma colega, que teve a sorte de entrar para o quadro primeiro que eu, mas que não tem mestrado, por exemplo, e eu tenho.... que fez o mesmo estágio que eu fiz e que teve na altura, classificação inferior à minha. Tem a sorte de ter mais 6 ou 7 anos de serviço que eu.

- não quero ser avaliada pelos pais. Sou professora e sou mãe. Sei muito bem que a «nossa avaliação enquanto encarregados de educação» depende em muito daquilo que os filhos nos dizem em casa, dos resultados dos testes.... da subjectividade de um jovem de 12,13 e 14 anos. Eu também ouço a minha Maria.... mas não julgo os meus colegas pelo que a Maria me conta. Não estou em situação de sala de aula, logo, não avalio.

- A minha Maria (e isto hoje é só puxar de galões) frquenta uma escola pública, que fica sempre nos 10 primeiros lugares do ranking nacional em sucesso escolar. Só os «Muito Bons» continuam estudos naquela escola depois de concluída a escolaridade obrigatória. Os demais são «convidados a sair». O que quero dizer? Tão simplesmente que a Maria, e eu também, temos de trabalhar muito para que ela obtenha a classificação «Muito Bom». Não é só a escola que tem de dar, não são só os professores que são os responsáveis pelo processo de aprendizagem dos alunos. Os paizinhos têm também muito trabalho de casa a fazer. Quantos é que acompnham os estudos dos seus filhos? Quantos é que verificam as suas cadernetas escolares; quantas vezes vão à escola falar com a Directora de Turma? Quanto é que fazem perguntas aos filhos antes dos testes? Quantos é que compram livros para promover a literacia?

- não quero ser avaliada pelo facto do aluno ficar doente ou adormecer e não ir à escola numa determinada manhã;

- não quero ser avaliada por ter feito um «glossário com 20 palavras». Que ridiculo...

 

A escola não é uma empresa privada, não é uma Sociedade Anónima.

Em todos os sectores (não só no público) há bons e maus profissionais. Do mesmo modo como há bons e maus governantes, bons e maus médicos, diligentes e negligentes, bons e maus serralheiros, mecânicos, gestores.....

 

Mas se quiserem estar comigo um dia em contexto de sala de aula, façam o favor de me dizerem. Trabalho em Lisboa e terei todo o gosto em passar um dia com quem diz que a vida de professor é «não fazer nenhum». Apenas um conselho: levem um analgésico, porque, de certeza, no fim do dia irão ter muitas enxaquecas. E não fiquem espantados, porque, afinal, os alunos que temos são o resultado da educação que os pais que nos querem avaliar dão.

 

 



publicado por Estupefacta às 20:55 | link do post | comentar

6 comentários:
De C.M. a 20 de Novembro de 2008 às 21:55
Muito bem dito.
E parabéns pelo belo trabalho de Encarregada de Educação, afinal de contas, aquilo que verdadeiramente se espera do papel de pai, mas que poucos conhecem. Ser pai não é só oferecer telemóveis da última geração como muitos pais dos meus alunos julgam. E é incrível como muitos que têm esta mentalidade são pais de classe alta.


De Estupefacta a 20 de Novembro de 2008 às 22:28
Responsabilizar os outros pelas nossas incapacidades é muito fácil. A Maria não tem tido o percurso escolar que mais desejava, mas em situação alguma pus o trabalho dos professores dela em causa.
Aos meninos não lhes falta a PSP, os telemóveis topo de gama, mas falta-lhes a atenção, preocupação, participação dos pais. Gastar tempo com os nossos filhos dá trabalho, mas é essencial. O que me aborrece é quem fala sem conhecimento de causa, quem está 8 horas dentro de um gabinete e não sabe dar educação aos filhos.
Beijinho Nave e obrigada


De guguinha a 21 de Novembro de 2008 às 11:00
Estás zangada com alguém? Concordo contigo em quase todos os pontos , noutros nem tanto. Como sabes há professores e professores, assim como pais e pais, e normalmente os pais que mais reclamam são aqueles que menos acompanham os filhos, que nem se interessam. Mas quando há pais que se interessam,que vão à escola , que querem saber como vão os seus filhos, que inclusivé sugerem algumas atitudes para melhorar o comportamento dos seus filhos, e a resposta é a planta da sala é assim! desculpa mas não é só culpa dos pais. E como sabes sou mãe, tenho familia directa professores, e estou completamente de acordo com a vossa manifestação. Beijinhos , Guguinha


De Estupefacta a 25 de Novembro de 2008 às 11:03
Querida Guguinha , só estou zangada com a Ministra, mas isto passa. Concordo contigo, em tudo na vida há bons e maus. A planta da sala de aula é fixa? Isso é ridículo , não??!!! As coisas não são eternas e têm de se fazer ajustes de acordo com as necessidades dos miúdos. É um exemplo de mau, de inflexível.
Estas manifestações são necessárias, afinal não vivemos num regime ditatorial.
Beijinho grande Guguinha .


De blogando-me1 a 21 de Novembro de 2008 às 22:10


De Estupefacta a 25 de Novembro de 2008 às 11:04
Que a paz e o amor estejam contigo todos os dias da tua vida.
Beijinho grande


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