Vamos lá esclarecer várias coisas:
1) Os professores sempre foram avaliados. A Ministra em particular e este governo em geral não descobriu a pólvora. A avaliação dos docentes não teve início com o Governo Socialista. Com o governo socialista tiveram início os despedimentos e os contratos a termo certo ou a prazo. Recuem ao ano de 1983 e relembrem o que o senhor Mário Soares fez enquanto 1º Ministro;
2) Sou professora há 16 anos e sempre fui avaliada no final do ano lectivo;
3) A minha assiduidade ou falta dela sempre contou para a minha avaliação. Os artigos 102º (não o art. 4º) sempre entraram na avaliação;
4) Sempre cumpri, na escola, a componente lectiva e a não lectiva (inclusive quando estava em período de amamentação);
5) Sempre fui avaliada por todo o trabalho que desempenhei: as aulas que dava (competência pedagógica); as visitas de estudo que organizava e /ou acompanhava; a formação que tinha e que era creditada (25horas= 1 crédito), as reuniões que tinha com os Encarregados de Educação, todo o trabalho que fazia para que o educando não abandonasse a escola, etc. Ou seja, sempre fui avaliada por todo um trabalho/processo que desenvolvi e não apenas pelos resultados que obtinha no final do ano. Os resultados são importantes, mas o processo é ainda mais e se não fosse assim, a Senhora Ministra não propunha a transição de todos os alunos até ao 9º ano;
6) O que os professores pretendem não é o fim da avaliação docente. É o fim deste modelo de avaliação, que já provei em post anterior de nada ser útil e nada apresentar de interesse nacional;
7) Sou professora e sou mãe de uma jovem que frequenta o 3º Ciclo. Sei, portanto, o que devo fazer enquanto professora, mas sei também o que fazer enquanto Encarregada de Educação e mãe.
8) O que não pretendo é ser avaliada por coisas ridículas como as que de seguida apresento.
- não quero ser avaliada pelo número de positivas e de negativas que possa dar, nem pelos 4 ou 5 que os alunos possam vir a ter;
- não quero ser avaliada pelo número de telefonemas que faço aos Encarregados de Educação;
- não quero ser avaliada por uma colega, que teve a sorte de entrar para o quadro primeiro que eu, mas que não tem mestrado, por exemplo, e eu tenho.... que fez o mesmo estágio que eu fiz e que teve na altura, classificação inferior à minha. Tem a sorte de ter mais 6 ou 7 anos de serviço que eu.
- não quero ser avaliada pelos pais. Sou professora e sou mãe. Sei muito bem que a «nossa avaliação enquanto encarregados de educação» depende em muito daquilo que os filhos nos dizem em casa, dos resultados dos testes.... da subjectividade de um jovem de 12,13 e 14 anos. Eu também ouço a minha Maria.... mas não julgo os meus colegas pelo que a Maria me conta. Não estou em situação de sala de aula, logo, não avalio.
- A minha Maria (e isto hoje é só puxar de galões) frquenta uma escola pública, que fica sempre nos 10 primeiros lugares do ranking nacional em sucesso escolar. Só os «Muito Bons» continuam estudos naquela escola depois de concluída a escolaridade obrigatória. Os demais são «convidados a sair». O que quero dizer? Tão simplesmente que a Maria, e eu também, temos de trabalhar muito para que ela obtenha a classificação «Muito Bom». Não é só a escola que tem de dar, não são só os professores que são os responsáveis pelo processo de aprendizagem dos alunos. Os paizinhos têm também muito trabalho de casa a fazer. Quantos é que acompnham os estudos dos seus filhos? Quantos é que verificam as suas cadernetas escolares; quantas vezes vão à escola falar com a Directora de Turma? Quanto é que fazem perguntas aos filhos antes dos testes? Quantos é que compram livros para promover a literacia?
- não quero ser avaliada pelo facto do aluno ficar doente ou adormecer e não ir à escola numa determinada manhã;
- não quero ser avaliada por ter feito um «glossário com 20 palavras». Que ridiculo...
A escola não é uma empresa privada, não é uma Sociedade Anónima.
Em todos os sectores (não só no público) há bons e maus profissionais. Do mesmo modo como há bons e maus governantes, bons e maus médicos, diligentes e negligentes, bons e maus serralheiros, mecânicos, gestores.....
Mas se quiserem estar comigo um dia em contexto de sala de aula, façam o favor de me dizerem. Trabalho em Lisboa e terei todo o gosto em passar um dia com quem diz que a vida de professor é «não fazer nenhum». Apenas um conselho: levem um analgésico, porque, de certeza, no fim do dia irão ter muitas enxaquecas. E não fiquem espantados, porque, afinal, os alunos que temos são o resultado da educação que os pais que nos querem avaliar dão.